passei os últimos meses a dormir numa cama de 90 anos. era
muito bonita, muito sensível e falava comigo.
era uma boa companhia, cumprimentava-me assim que chegava,
despedia-se no momento a que me punha de pé e comentava tudo o que ali se
passava.
mas a pobre precisava de descanso. sabia que em certas
alturas a magoava, ela queixava-se bastante. mas foi uma boa amizade enquanto
durou.
agora tenho o colchão no chão.. olho para ela ali ao fundo,
desmontada, inútil, silenciosa, à espera do próximo destino e sinto uma ténue
saudade.
continuo a gostar dela, mas estou melhor sem ela.
vejo noutra perspectiva: o tecto está mais longe e o cotão mais perto. e os outros móveis parecem mais reais, com mais peso.
vejo noutra perspectiva: o tecto está mais longe e o cotão mais perto. e os outros móveis parecem mais reais, com mais peso.
acontece o mesmo com algumas velhas amizades.
quando se desmontam e perdem a função, perspectivam-nos a
realidade:
confirmamos a grandeza das que ficam e limpamos mais vezes o
lixo acumulado entre elas.